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sábado, 1 de março de 2008
Rambo IV

Faz tanto tempo que nada é postado nesse blog que eu resolvi postar uma crítica mais "dinâmica" para Rambo IV, assistido ontem por mim.
10088 tiros dados 7953 L de sangue derramado 4251 mortos 2012 pedaços de corpos voando pela tela 413 pernas mutiladas 389 mãos decepadas 249 cabeças rolando 53 diálogos 25 explosões 3 barcos destruídos 1 explosão de aproximadamente 1 Megaton 63% da população taiwanesa morta
Se você não tiver nada para fazer em algum dia de tarde e não quiser gastar muito os neurônios, eu recomendo.Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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domingo, 29 de julho de 2007
Soy Cuba
 Sensacional do início ao fim. Filme produzido na década de 60, com direção de Mikhail Kalatozov (o mesmo de Quando voam as cegonhas) para servir como divulgação da revolução cubana, foi totalmente ignorado após sua estréia em Havana e Moscou, sendo redescoberto no início da década de 90 por Francis Ford Coppola e Martin Scorcese. O filme mostra através de quatro histórias, e de uma filmagem ESPETACULAR, a evolução de Cuba, dos tempos de Fulgêncio Bastista até a revolução de Fidel Castro. Na primeira parte, vemos um grupo de americanos em um bordel em Havana. Ok, primeiras observações: eu não sei se o objetivo foi de certa forma ridicularizar os americanos, ou se dois dos três atores que faziam papel de americanos eram muito maus atores, porque em algumas cenas o espectador fica com um ponto de exclamação piscando na cabeça pensando “puta merda! Que forçado!”; nesta primeira seqüência já notamos um caráter extremamente crítico quanto ao período pré-revolução quando em uma das frases um americano diz “com dinheiro, se pode tudo em Havana” (o que não deixa de ser verdade, na época referida, mas que acaba prejudicando o início do filme ao meu ver, já que não é necessário dizer com todas as palavras o que já está claro na tela). Na segunda parte, temos a história de uma família que desde sempre se sustenta através do cultivo e colheita de cana. Pablo, cuja história vemos rapidamente em uma seqüência de cenas absolutamente genial, aparece rezando em uma noite de chuva para que a próxima safra seja frutífera, a fim de sustentar seus filhos. Temos então a imagem do campo totalmente tomado, tempos depois, com pés de cana altíssimos como o velho rezara. Começando a colheita, vemos o dono daquelas terras chegando a cavalo para tratar com Pablo. Ele lhe diz que vendeu aquelas terras a uma companhia americana, e que, portanto, Pablo não pode mais morar ali e que seu trabalho com aquela cana havia terminado. A terceira parte mostra a mobilização estudantil a favor da revolução e seu apoio a Fidel, com Henrique como principal personagem. Na quarta e última seqüência, temos uma família que em certo dia recebe um guerrilheiro da revolução. Mariano, pai da família, conversa com o guerrilheiro e mostra seu desacordo com a revolução ao dizer “essas mãos foram feitas para semear, e não para matar”, com o guerrilheiro respondendo “e essa terra que semeias, é tua?”. Instantes depois, aviões do governo bombardeiam a região, destruindo a casa de Mariano e forçando sua família a fugir, fazendo com que Mariano se junte à guerrilha. Mas a genialidade do filme não está na história, e sim na filmagem. Logo de cara temos uma tomada aérea da selva cubana absolutamente espetacular. Após, acompanhamos o trajeto de um pequeno barco através de uma vila, com a câmera a bordo do barco, se esgueirando por entre galhos, pequenas pontes de madeira e mostrando a pobreza daquela Cuba, que narra (voz de Raquel Revuelta) sobre suas dores e explorações. A genialidade desta pequena cena que contei aqui está presente durante TODO o filme. Em algumas tomadas meu queixo caiu, tamanha a grandiosidade da cena, como por exemplo quando a câmera acompanha a raiva de Pablo (ao ser avisado que teria de sair daquelas terras) se movimentando freneticamente e acompanhando o facão conforme ele cortava pés de cana incessantemente. Tirando proveito de jogos de luzes e imagens, o filme parece vez por outra um poema visual, unindo frases de impacto com cenas absurdamente lindas como quando Pablo narra as dificuldades de sustentar uma família dizendo “antes eu pensava que a coisa mais assustadora na vida seria a morte. Agora bem sei. A coisa mais assustadora na vida é a vida” com a imagem dele na chuva rezando para que a cana cresça alta.
Eu poderia muito bem descrever outras quinhentas cenas do filme que me pareceram dignas de comentário, mas aí eu seria injusto com quem for que esteja lendo esta crítica. Apenas digo: ASSISTAM! (e ignorem a tradução simultânea para russo) Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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quinta-feira, 10 de maio de 2007
Tenacious D in “The Pick of Destiny”

Nota: como vi esse filme há muito tempo, a crítica será total – e não apenas parcialmente – subjetiva. O Minutemen tem uma música que se chama “History Lesson, Part Two”, do álbum Double Nickels On The Dime (1984), que melhor expressa o efeito que a música tem sobre algumas pessoas num determinado momento de suas vidas. Ela narra como D. Boon e Mike Watt, vocalista e guitarrista e baixista respectivamente, viveram a música, ou sua “história musical”: Our band could be your life, real names be proof Me and Mike Watt, we played for years Punk rock changed our lives We learned punk rock in Hollywood, drove up from Pedro We were fucking corndogs, we’d go drink and pogo Mr. narrator, this is Bob Dylan to me My story could be his songs, I’m his soldier child. Apesar de falar de metal e não hardcore, de se passar agora e não nos anos 80, Tenacious D in “The Pick of Destiny” é, em última instância, sobre o poder da música sobre a vida das pessoas – premissa que gera filmes idiotas, mas que também faz outros ótimos, como é o caso. Jack Black parece ter um projeto de revitalizar o rock para as novas gerações – e eu que há muito desisti de ver nele (o rock) qualquer força real pareço gostar muito, e olha que é difícil gostar de metal. Se em Escola de Rock Black era o professor que introduzia seus mimados e certinhos alunos no potencial transgressor da música, aqui ele mesmo é esse garoto, mostrando a saga de um guri gordinho crescido numa família religiosa e interiorana sob o comando de um rígido pai (Meat Loaf), que recebe consolo de suas frustrações através de um Ronnie James Dio (\m/) emparedado num cartaz.
Corta. Venice Beach. JB encontra um guitarrista na rua – Kyle Gass – que se torna seu mentor nos segredos do rock ‘n’ roll, até que descobre que KG é apenas um guitarrista gordo e frustrado, sobrevivendo com a ajuda dos pais e ainda por cima careca – desde criança. Temos, então, os dois heróis da aventura, e o que se segue é a paródia de qualquer filme hollywoodiano: eles se separam, se unem, encontram a tentação das mulheres, enquanto seguem o objetivo maior de encontrar uma palheta utilizada por todos os maiores guitarristas da história e que na verdade é um pedaço de um dente do diabo arrancado por um mago medieval (a cena da explicação disso é hilária), até o cume do duelo entre Tenacious D (outra cena boa é a da formação do nome da banda) e o Diabo ele mesmo (David Grohl).
O filme triunfa porque é ridículo, nunca se leva a sério, Jack Black e Kyle Gass estão perfeitos, cada homenagem é um misto de admiração e sátira – há cogumelos, flexões penianas: todo o bestiário do mito roqueiro. O poder do rock, segundo JB, é o de fazer esquecer de tudo que é absurdo nele e em seus fãs e tornar-se, assim, essencial. É o de revelar uma força que é quase revolucionário – ou inconformista –, ainda que ilusória – e isso o filme aceita e glorifica. Marcadores: Pedro Silveira
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domingo, 6 de maio de 2007
Cassino Royale
 Muita gente andava dizendo "MAS O DANIEL CRAIG NÃO TEM CARA DE JAMES BOND!!!" ou "MAS O DANIEL CRAIG É FEIO!!" (bom, não dá pra tirar a razão né?) ou ainda "O DANIEL CRAIG É LOIRO!!!", e eu aqui sempre dizendo "mas ele é tri bom ator, é bom ator feio, mas bom ator!" (ok, ele não é TÃO feio assim). E eis que chega Cassino Royale nos cinemas e contrariando as expectativas de muitos fãs de James Bond (os chatos, geralmente, diga-se de passagem), ele se torna uma referência em filmes do 007, além de ser o mais lucrativo (com méritos) dentro da franquia. Mas enfim, vamos ao filme (quem não viu o filme e não quer saber nada sobre ele, não leia).
Cassino Royale fala sobre a primeira missão do James Bond como agente 007 - explicando também como ele conseguiu o "00" (licença pra matar). Basicamente a missão dele é ganhar uma partida de pôquer e evitar que milhões de dólares caiam nas mãos de um financiador do terrorismo chamado Le Chiffre (sem piadinhas sobre o nome dele, ok?). Para ajudá-lo na missão, há Vesper Lynd (Eva Green) e Mathis (Giancarlo Giannini).
Bueno, vocês nunca se perguntaram como James Bond virou o assassino frio, conquistador e aproveitador nato, mulherengo e charmoso dos outros filmes? Pois é, em Cassino Royale eles mostram essa transformação. E aí está uma das principais queixas dos admiradores do agente: cadê o James Bond que se aproveita das mulheres, como simples objetos e mata sem dó no coração, e nem sequer sua, fazendo tudo isso? Ele está lá, mas com uma diferença: ele é novato, portanto, ainda tem sentimentos de culpa e é mais descuidado. Agora vejamos, o que faz com que um homem adquira um coração frio em relação às mulheres, não tendo escrúpulos em usá-las? Uma desilusão amorosa bem forte, certo? Nada mais coerente então do que mostrar um James Bond apaixonado em sua primeira missão, mas com pintas de seu futuro perfil, afinal, ele se aproveita ou não duma esposa de mafioso genérica? E quando Vesper Lynd lhe pergunta "Eu terei alguma dificuldade com você, senhor Bond?", ele responde "Você não faz meu tipo.", ela retruca "Eu sou inteligente demais" e ele finaliza em uma das cenas de humor do filme dizendo "Solteira...". Sim, ele traz "problemas" pra ela, mas essa demonstração de frieza em relação ao assunto já mostra o que está por vir nas outras missões (e todos os filmes anteriores do espião). Quanto ao assassino frio: ora, por favor, ele recém tirou a licença pra matar, é óbvio que ele não vai sair matando todo mundo sem dó nem piedade - apesar que em alguns momentos é isso que ele faz. E é claro que como é sua primeira missão, ele tem pouquíssima experiência, e portanto se descuida (e por causa disso, se machuca) mais fácil. Nesse aspecto, o diretor foi impecável: nunca se viu um filme do James Bond tão violento. Se você estava acostumado a ver James Bond usando suas engenhocas, esqueça. O que ele mais usa nesse filme é o muque mesmo. E por isso ele sua tanto.
O começo do filme é BEM promissor. Em uma tomada em preto e branco, mostra os primeiros assassinatos cometidos pelo agente 007, até que em algum momento, após a cena, ele se vira e BUM, atira em direção à tela, como de costume, e inicia a apresentação dos créditos. Eu, particularmente, achei que a música e a apresentação dos créditos não tinham nada a ver, mas enfim... pequena falha. Mas se a cena antes da apresentação dos créditos é ótima, a final, é melhor ainda. O espectador espera o filme inteiro e finalmente acontece. Vemos um dos contribuintes (ou algo do gênero) de Le Chiffre chegando em casa e levando um tiro no pé. Eis que ele grita, rastejando "quem é você?" ao que aparece um par de sapatos, e vemos um James Bond 80% mais charmoso dizendo "O nome é Bond... James Bond...".
O roteiro é simples? Sim. Mas o jeito como ele é desenvolvido dentro do filme o tornou uma excelente referência cinematográfica de 2006. Assista! Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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quinta-feira, 26 de abril de 2007
O Segredo de Beethoven

Filme que mistura fatos verídicos com ficcionais para contar os últimos anos de vida de Beethoven, focado na composição da Nona Sinfonia. Com atuações de Ed Harris (Beethoven) e de Diane Kruger (Anna Holtz), o filme conta como Beethoven, a beira da surdez, teria sido ajudado por uma brilhante estudante de música a terminar e reger a Nona Sinfonia. A princípio desprezada por Beethoven, a jovem consegue com esforço quebrar a carcaça do compositor e conquistar seu coração. Sinopse ingênua e clichê? Com certeza. Depois eu vou comentar a parte histórica do filme, mas deixando de lado os fatos, e analisando apenas o enredo do filme: é um filme legal - e só. A cena-chave do filme é quando a Nona Sinfonia é executada para um teatro lotado. Nesta cena, fica evidente o quão grande o filme poderia ter sido. Com a câmera tremendo nas partes mais intensas da composição e focando o rosto, expressões e movimentos corporais de Beethoven a diretora Agnieszka Holland consegue tirar, momentaneamente, o filme do amadorismo reinante ao qual o filme estava condenado. A expectativa do coral antes da entrada em Ode à Alegria, evidenciada em uma tomada do rosto nervoso de uma das integrantes do coral e quando a câmera mostra membros do público boquiabertos e emocionados são cenas que, apesar de simples, cumprem seu papel.Quanto aos atores: decepcionante. Apesar da atuação muito boa de Ed Harris, ele decepciona. Ao tentar mostrar um compositor obcecado, ele passa um "quê" de loucura e fanatismo, e não consegue passar segurança na tela, o que é essencial quando se tratando de um personagem histórico como Beethoven (talvez o problema tenha sido mais de roteiro do que de atuação, é verdade). Quanto à Diane Kruger, ela simplesmente não compromete, e isso é algo para se parabenizar com uma personagem tão comprometedora quanto Anna Holtz (depois explico o por quê disso). Quanto ao resto do elenco: fraquíssimo. Destaque negativo para o sobrinho de Beethoven, Karl von Beethoven, protagonizado por Joe Anderson. Poucas vezes vi uma atuação tão medíocre quanto essa.Bom, saindo do âmbito cinematográfico e entrando no âmbito histórico.Fatos: Beethoven existiu e realmente compôs uma Nona Sinfonia. Ele também estava ficando surdo.Ficção: todo o resto.A Nona Sinfonia foi a primeira sinfonia de Beethoven em 12 anos - tempo necessário para a composição das outras 8 sinfonias - e é um dos maiores marcos em sinfonias (sendo a primeira sinfonia a contar com um coral), tendo influenciado gerações e mais gerações de compositores. A Adagio da sétima de Bruckner, por exemplo, é uma herdeira da melodia do Terceiro Movimento da Nona Sinfonia, "Adagio molto e contabile", assim como suas Sinfonias em Ré menor (a terceira e a nona) são herdeiras diretas da Nona Sinfonia de Beethoven. Outro compositor que foi muito influenciado foi Mahler, especialmente em sua Segunda Sinfonia. A forma com que o Terceiro Movimento da Nona Sinfonia é encerrado também serviu de inspiração para o final da Agadio da Quarta Sinfonia de Mahler. Bom, acho que já deu pra entender o peso da Nona...Ao contrário do que o filme mostra, a Nona Sinfonia não foi regida por Beethoven, e sim por Michael Umlauf, diretor musical do Kärntnertortheater, em Viena, onde foi apresentada pela primeira vez, em 1824. Apesar disso, Beethoven teve direito a um lugar ao lado do maestro. A primeira execução teve um sucesso estrondoso, apesar de Viena estar completamente cativada por Rossini.Uma coisa que o filme pecou, e muito, foi o modo como foi mostrada a surdez de Beethoven. No filme, ele é apresentado como um exímio leitor de lábios (e mesmo assim, na maioria das vezes ele nem sequer estava olhando pra pessoa), e tendo uma surdez muito moderada, coisa que na realidade não acontecia. O problema de audição dele era tão grave que todos seus pianos tinham os pés cortados, para ficar próximo ao chão e ele poder sentir a vibração, deitado. Esse foi um dos pontos que eu acho que mais falhou no filme.Mas vamos ao que ferrou, e muito, o filme: a diretora e os roteiristas se importaram tanto em criar outra personagem forte, para manter a trama que acabaram tirando o foco do que deveria ser o assunto principal: Beethoven. A personagem Anna Holtz é mostrada como uma personagem em quem Beethoven se apóia demais, diminuindo o compositor. Louie - como um de seus amigos se refere a ele, e que é outro ponto patético do filme - desenvolve inclusive um tipo de paixão pela garota. A cena em que Beethoven pede pra Anna banhá-lo tem que ser uma das cenas mais constrangedoras da história do cinema.Outro erro do filme foi tentar se aproximar de Amadeus, de Milos Forman (que conta a história do, na minha opinião, mais genial compositor de todos os tempos, Wolfgang Amadeus Mozart), como na cena em que Beethoven, fraco, dita uma composição para Anna, no que parece uma clara tentativa de copiar a cena em que Mozart, a beira da morte, dita partes do Réquiem para Salieri copiar. Também na cena em que Anna toma coragem e mostra uma de suas composições para Beethoven e este ridiculariza a música, pode-se lembrar da cena em que Mozart, na frente de outros nobres, melhora uma composição de Salieri e o humilha.Apesar de Beethoven ser um prato cheio pra qualquer roteirista, estes preferiram praticamente denegrir a imagem do compositor com uma história digna de filmes de fundo de locadora. Aposto muitas fichas de que se o filme fosse mais focado em Beethoven e na Nona Sinfonia, o filme iria se sobressair. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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sábado, 14 de abril de 2007
Sunshine - Alerta Solar
Tempo atrás, não faz muito, vi o trailer dessa nova empreitada do Danny Boyle. Comentei, “putz, mas esse Sunshine parece um lixo”. Fui adiante: “Uns magrões querendo religar o Sol? Qualé?”. Rateada total. Eu deveria saber melhor. O negócio é que o Danny Boyle não faz filmes ruins. Até seus filmes meia-boca são legais pra caramba, como Por uma Vida menos Ordinária e o A Praia (que vamos lá, seria bom se não fosse aquela estrutura lixenta). Danny Boyle tem tudo para ser afetado. Ele é inglês. Ele é famoso. Ele dirigiu Trainspotting e Cova Rasa. E ainda assim, ele não é afetado ou artê. O seu filme “de zumbis sem zumbis”, Extermínio, é uma obra-prima, talvez um dos melhores filmes da década. O seu filme infantil, Caiu do Céu, é o tipo de filme que eu teria todo o prazer do mundo de levar meu filho para ver. Se eu tivesse um filho, claro. Mas chega de falar do Boyle. Vamos entrar no Sunshine. O inglês disse que a principal inspiração para o filme foi 2001: Uma Odisséia no Espaço e Solaris (o original do Tarkovski, óbvio). Então, isso significa que Sunshine é um filme de trinta horas, lento pra cacete e cheio de diálogos reflexivos? Piça!! Sunshine é inteligente sem esfregar na cara. Não é monótono em momento algum, não, é um filme de ação quase. E ainda assim esbanja não apenas realismo (o que não é muito importante no gênero da ficção-científica) como implicações metafísicas e filosóficas. Há deslizes? Putz. O Boyle, que bem aprecia uma mudança total de tom nos seus filmes dá a impressão, por um momento, que Sunshine vai se tornar um horror do tipo slasher no espaço. Não falo mais para não sabotar a experiência, mas digamos que depois o filme retoma de onde parou e essa subtrama fica bem interessante. Vou dar um chute longínquo: acho que isso é culpa do nosso amigo Alex Garland, colaborador frequente do Boyle que escreveu o filme, além do já mencionado A Praia. A grande “graça” do filme, pelo menos para mim, está nas soluções visuais do Boyle. A maneira como a luz reflete nas superfícies é uma atração à parte. Remete diretamente ao estilo de filmar do Brian de Palma. Um adjetivo adequado seria “slick”, mas não consigo pensar no equivalente em português. O curioso? Brian de Palma já dirigiu uma ficção-científica com tons parecidos com Sunshine. O filme era Missão a Marte, e considero o pior filme que assisti do mestre De Palma. Conclusão? Sunshine é, para mim, o filme que Missão a Marte deveria ter sido e não foi. Agora antes que me chamem de fresco, me permitam explicar que a luz tem uma importância forte no filme, tanto no nível simbólico-metafórico quanto no estético. O reflexo dela é um dos ingredientes fundamentais do filme. Tudo explode e brilha e preenche o mundo de luz e branco e envolve. Delícia. Sendo um pouco chato, nem tudo é maravilha. Tem uma meia dúzia de planos que é muito videoclipeiro para meu gosto, mas os espectadores fãs de Tony Scott não vão reclamar. Mas no geral cada enquadramento parece muito bem planejado. O Danny Boyle tem uma mania de filmar rostos de ângulos inusitados que me agrada muito. As cenas de ação também lucram com tomadas que começam “invertidas” e que vão se normalizando aos poucos. Acho que já falei de mais. Vai logo no cinema ver o filme, estreou hoje, 13 de abril na província de Porto Alegre. A campanha de marketing de Sunshine é quase nula, o filme sairá de cartaz em dois toques. E sim, é filme de se ver no cinema. Ajoelhado, de preferência. Absorvendo uma saraivada de luz. P.S.: qual é a do subtítulo? “Alerta Solar”? Pior que o “Sem Limites” do Trainspotting! Marcadores: Antônio Xerxenesky
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segunda-feira, 26 de março de 2007
V de Vingança

O Alan Moore, como sempre, reclamou. Mas acreditem em mim quando eu digo que é só porque ele ADORA encher o saco de vez em quando. Do Inferno é outro baita filme baseado em obras dele e adivinha? Ele não gostou. No caso do V de Vingança ele chegou a pedir pra tirarem o nome dele dos créditos, porque não queria o seu nome associado àquela besteira. PURA frescura. Sim, mudaram coisas na adaptação dos quadrinhos para o filme e sim, existem frases de efeito (o que convenhamos, também não era tão raro assim nos quadrinhos...). Mas a verdade é que o filme ficou muito bom, e mesmo mudando algumas coisas, ele continuou fiel à proposta inicial.
Exemplo: no filme temos um ambiente totalmente 1984 (livro do George Orwell, se é que alguém não sabe disso..., que mostra uma Inglaterra ditatorial e totalmente claustrofóbica), que na minha opinião ficou perfeito - esse ambiente também existia nos quadrinhos, mas no filme ficou mais claro ainda. Outra coisa que mudou, e que em alguns pontos foi para melhor foi a personagem Evey Hammond (Natalie Portman): nos quadrinhos, ela é uma menina de 16 anos que sai pra se prostituir e encontra os homens-dedo (uma polícia especial e violenta), sendo salva por V (um terrorista com uma máscara de Guy Fawkes - terrorista do século XVIII ou XVII ou algo assim que tentou explodir o parlamento num dia 5 novembro e que inspirou todo a personagem do V). No filme, ela é apenas uma moça que sai pra se encontrar com um cara, depois do toque de recolher, e o resto é o mesmo que nos quadrinhos, ela é interceptada pelos homens-dedo e o V salva ela. Nesse ponto eu acho que deixar a versão dos quadrinhos não teria ficado ruim, apesar de que muitas outras coisas no filme também mudariam, e essas mudanças talvez piorassem o filme, logo, a escolha não deixa de ser justa. Outro ponto que mudou dos quadrinhos pro filme, e que aí sim, melhorou e MUITO, foi que, nos quadrinhos, a Evey é levada pelo V pro lar dele (assim como no filme) e ela fica com ele por um tempão e em NENHUM momento ela questiona realmente as motivações e os planos do V. No filme isso não acontece. No filme ela tem uma consciência e discute, argumenta diretamente com o V. Esse foi um dos pontos que eu acho que os Wachoski acertaram em cheio. No quesito pontos fracos, acho que o pricipal deles é a, digamos, forçação (que palavra feia) de barra excessiva em cima das habilidades de V. Tá certo que é um personagem de quadrinhos, mas uma adaptação pra níveis mais realistas não iria mal. Outro ponto fraco é a atuação de Natalie Portman mais pro final do filme. Até certo ponto ela ia muito bem, e então começa a decair para uma atuação em alguns momentos medíocre e superficial. Destaque pra atuação-por-trás-da-máscara de Hugo Weaving (que faz o V). O cara passa o filme inteiro atrás duma máscara e consegue ser um dos pontos fortíssimos do filme.
A minha sugestão para todos é que aluguem o filme E leiam os quadrinhos para tirarem suas próprias conclusões. Ambos tem seus pontos fortes e fracos. Apenas lembrem-se que o filme é a adaptação de uma história em quadrinhos e portanto relevem certos exageros. Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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quarta-feira, 14 de março de 2007
Scoop
 Ladrão de Casaca
Qualquer crítica sobre Woody Allen tem de considerar dois pontos: o primeiro, a unanimidade – merecida – que cerca sua obra; o segundo, há muito pouco de novo que se possa dizer sobre qualquer filme seu. Portanto nada como a norma para falar de um filme normal; infelizmente os – apenas – cinco filmes que vi do Woody Allen me impedem de falar em termos de toda a sua carreira, pois até há pouco nunca gostara justamente da aura que as pessoas viam em tudo que tinha seu dedo – e foi difícil admitir que em grande parte estavam certas... Contava contra também o fato de me parecer partir quase sempre do mesmo ponto cômico, aquele de escalar uma "musa" para tantos filmes e colocar a si mesmo como par romântico dela - já ouvi muitas justificativas de adesão ao Woody Allen só por isso, o que creio não ser o melhor motivo para gostar de seus filmes. Falando de Scoop, contudo, não serei eu a falar mal - sozinho - de Woody Allen, simplesmente porque o filme é muito bom, extremamente engraçado e divertido.
O filme trata da busca por um possível serial killer aristocrático, refinado e bonito (Hugh Jackman) feita por uma medíocre estudante de jornalismo americana em férias na Inglaterra (Scarlett Johansson) que acaba, no decorrer da investigação, por se apaixonar pelo investigado, deixando-a em dúvida sobre o prosseguimento da investigação ou não, ainda mais que tudo aponta ao contrário. O enredo seria comum se não fosse dele, que se sobressai comentando a vaidade dos jornalistas, baseando seu filme num furo jornalístico conseguido trapaceando a morte, e seu próprio papel como judeu errante, que lhe é recorrente - seja na inadequação a um lugar (Londres) no caso, ou a uma situação (quase qualquer de seus outros filmes, creio). Mas a marca de Woody Allen se imprime na inversão da situação tradicional de um filme policial: não buscamos o fim da trama, a solução, a descoberta da identidade do assassino, e sim apreciamos o meio, a história como mostra de um certo estado de coisas muito divertido e quase onírico, em meio a toda a pompa da nobreza britânica e a facilidade com que seus membros pensam a si mesmos, e quase torcemos para que o filme tenha um final meloso, acabando pela metade - embora a reviravolta final do enredo, se não fosse pelo que Woody Allen faz em tela, seja quase que um final feliz.
A história, contudo, se amarra arranjando um concerto de erros - do tipo que os irmãos Coen tanto fazem e que, creio, tenham Woody Allen como inspiração - que já é conhecido, gerando um filme, como já disse, só muito divertido (que se salva pelos diálogos e piadas). Como ponto fraco aparece Scarlett Johansson, que por Encontros e Desencontros eu pensava ser uma boa atriz, mas que aqui muda e parada teria o mesmo efeito, só valendo o fato de vê-la na tela grande como justificativa pra gostar de ela estar ali – sua musa não funciona, parece a adoração de Godard por Ana Karina, que o fazia esquecer do resto que havia na tela para só mostrá-la (embora a visão não seja ruim, obviamente).
Eu tenho de justificar o título, e quero com uma viagem curta: Woody Allen é o ladrão de casaca que penetra a aristocracia britânica, a rouba, foge e se esconde, deixando seus rastros - o filme -, assim como inverte o jogo entre popular e erudito ao subverter o mais aristocrático – e, paradoxalmente, de maior apelo popular - gênero de narrativa, a policial, mas já devem ter dito isso.
Marcadores: Pedro Silveira
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quinta-feira, 8 de março de 2007
Lábios de Sangue
 O Jean Rollin é um dos cineastas europeus mais curiosos que conheço. Talvez seja o francês mais bizarro do mundo, por trilhar caminhos muito diferentes de seus conterrâneos. Pois bem, como o sujeito é um ilustre desconhecido pelo Brasil, um pequeno resumo do cara. Rollin é OBCECADO por vampiras lésbicas. É um tema que segue na grande maioria de suas obras, com pequenas exceções para o filosófico La Morte Vivant, sobre uma zumbi lésbica e o desastroso Zombie Lake, sobre mortos-vivos que saem do pântano atrás de garotas de topless.O que faz a trajetória de Rollin interessante, para mim, é o seguinte: seus filmes são artísticos demais para a fan-base tradicional do cinema de horror. Sua direção é arrastada, a direção de arte tende ao surrealismo e o roteiro ao incoerente. Então, quem gosta dos filmes são umas bichinhas francesas? Tampouco. Críticos de cinema já implicam com o cinema de horror. Vampiras lésbicas? Estão fora. Nem assistem. O Jean Rollin caiu, então, em uma intersecção incômoda. Seus filmes autorais não tem quem assista. Para poder dirigir seus filmes de vampiras lésbicas, constante fracassos de bilheteria, Rollin teve que dirigir pornôs e softcores sob pseudônimos diversos. Ou seja, para realizar seus filmes artísticos, tem que fazer um projeto comercial de quando em quando.O filme que decidi falar sobre, Lábios de Sangue (Lèvres de Sang, 1975) é sua obra mais pessoal e, ao mesmo tempo, sintetiza toda sua exploração do subgênero das vampiras lésbicas, muito popular entre os europeus. Para quem quiser mais sobre o incomum tema de vampiras lésbicas, visite o site da Revista de cinema Zingu que explica a origem do gênero e analisa três filmes importantes.Agora uma palavrinha sobre o filme em si, que como vocês perceberam, não é o enfoque dessa minha crítica, mas que diabos, a regra é falar de um filme específico no blog.É talvez a obra mais romântica de Rollin. Acompanhamos um homem que recorda-se de memórias enevoadas e confusas de uma infância sombria e uma mulher que o visitava ao ver uma foto de um castelo. O homem foge de sua realidade e penetra esse mundo onírico, buscando o castelo de sua infância, onde é perseguido por uma penca de vampiras seminuas. O absurdo da trama, a direção vagarosa e a fotografia colorida fazem do filme uma experiência sensorial única. O espectador pode detestar, dormir, mas duvido que outro filme lhe tenha passado a mesma sensação que este Lábios de Sangue. Bom, há não ser que ele já tenha assistido a outro filme do Rollin.Recentemente lançaram uma edição limitada de colecionador do filme nos EUA com três (TRÊS!) DVDs. Nunca é tarde para recuperar um filme tão esdrúxulo quanto belo e poético. Ele representa, digamos, o lado sensível do exploitation, lembrando os melhores filmes do prolífico espanhol Jesus Franco. Se tiveres a oportunidade (e uma mente um tanto aberta), faça o download do filme (pois não vais encontrá-lo nas locadoras). Fica aqui a dica. AH, sendo bem prático: se tu, leitor, já assistiu E gostou do filme, aqui vai o link para um ensaio sobre ele. Muito interessante: http://www.kinoeye.org/02/07/sparks07.phpMarcadores: Antônio Xerxenesky
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domingo, 4 de março de 2007
Dreamgirls
Sempre existiu uma certa fórmula para musicais: cenas musicais acompanhadas de diálogos. Tem toneladas de filmes por aí que comprovam isso: Mágico de Oz, Chicago, Moulin Rouge e, o que é possivelmente o melhor musical já criado, Cantando na Chuva. Quando um diretor decide por alguma epifania mal conduzida que é hora de inovar e tenta quebrar essa regra, SEMPRE se sai mal. Alguns conseguem fazer obras de sucesso de palcos se transformarem em filmes horrendos, que não merecem nem sequer serem expostos em locadoras. Um deles é O Fantasma da Ópera, do Joel Schumacher. É um dos piores filmes já feitos. Foi o único filme que NO CINEMA eu cheguei ao ponto de dar cochilos, apesar daquela trilha MAGNÍFICA (ironia, sentiu?) do Nightwish (justiça seja feita, uma das músicas nem é tão asquerosa assim). Dreamgirls não é nem de longe tão ruim. Mas não merece nem um quarto de indicação ao Oscar. Aliás, merece muito menos que isso. Em primeiro lugar, se tu tens um musical, tu APRESENTA ele como tal, prevendo uma possível falta de informação do espectador. Não faz um trailer com praticamente as únicas cenas faladas do filme e faz parecer que é um filme no padrão dos filmes biográficos. Em segundo lugar, tu não enche o filme com cenas musicais intermináveis e repetitivas. Eu não sei nem se o musical original era assim, mas mesmo que fosse, tem que adaptar algumas coisas! Eu perdi a conta de quantas vezes o público no cinema suspirou e murmurou com o começo de outra cena cantada. Em certo ponto, apreensivos com a possibilidade do início de outra cantoria, eu, e quem estava comigo, rogamos aos deuses cinematográficos juntos “não comecem a cantar! Não comecem a cantar!”, sendo atendidos e suspirando em alívio. São essas as sensações reinantes do filme: alívio quando eles não cantam, apreensão quando existe a possibilidade disso acontecer e frustração quando acontece.As provas de que o musical bom não é feito com toneladas de cantorias estão aí pra todos verem. O Mágico de Oz tem MUITO mais cenas faladas do que cantadas e é um clássico absoluto dos musicais! O High School Musical (musical da Disney lançado em 2006, acho que apenas para a TV), pra ficar em um exemplo mais novo, tem elementos fortíssimos de exageros típicos de alguns musicais, como no começo do filme em que Troy e Gabriella começam a cantar juntos como se tivessem cantado a vida inteira lado a lado. Isso não prejudica o filme, porque ele foi feito pra ser assim. Como deveria acontecer, as cenas musicais se resumem às passagens mais importantes e pronto, temos um musical que passa longe do chato. Pra finalizar o argumento, Cantando na Chuva, o melhor musical já produzido, tem seu pico de excelência em uma música de 4 minutos e 15 segundos que só aparece na segunda metade do filme.Em Dreamgirls, cada música é uma nova tentativa de emplacar A música do filme. A cena em que Effie sai das Dreamettes tem que ser uma das seqüências mais chatas da história do cinema. Numa cena que eu calculo que dure uns dez minutos ou mais, temos duas das músicas mais repetitivas da história tocadas uma depois da outra. E o pior: são músicas não só repetitivas, mas também longas.A maioria dos Oscar’s tem aquele filme medíocre que sabe-se lá porque cargas d’água foi indicado à melhor filme, como O Segredo de Brokeback Mountain ano passado, mas dessa vez, eles exageraram na dose. São poucas as coisas boas que podem receber destaque nesse filme. Eddie Murphy atua bem no seu papel (apesar de aparecer pouco), e as vozes de Beyoncé e da ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, Jennifer Hudson impressionam em algumas passagens. E só. Jamie Foxx não convence em nenhum momento no personagem que interpreta e a trilha sonora não passa de mediana. Parece que ouvimos sempre a mesma melodia, mas com letras diferentes. É uma trilha previsível e repetitiva. Para completar, ainda temos uma cena paz e amor no final entre o “vilão” da história Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx) e Deena Jones (a Dreamgirl principal, Beyoncé Knowles), quando esta canta um verso de amor olhando pra Curtis, seu ex-marido, que retribui com um sorriso que faz o espectador pensar: peraí, mas ele não era um baita fdp? E eles não tinham brigado há uns 2 minutos? Não obstante, o filme termina com Curtis descobrindo que tem uma filha com Effie (a primeira Dreamgirl que ele namorou e que posteriormente saiu do grupo) e... é. Nada. Não acontece absolutamente nada. Ele vê ela do camarote, desce, fica do lado dela e puf, acabou o filme. Legal né?
Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Miami Vice
O filme mais mal-interpretado de 2006
O IMDB, o maior website sobre cinema fez, como todo ano, uma votação dos usuários para avaliar os melhores filmes de 2006. Respondi a votação. Chegou o momento “Filme do ano”, não pestanejei: Miami Vice, obra-prima do Michael Mann. Voto encaminhado, decido olhar os resultados parciais; eis que encontro o filme que votei como o melhor do ano muito bem cotado como um dos piores do ano! Diziam que o cineasta Michael Mann era à prova de críticos. Nenhum filme seu desde, sei lá, o primeiro do Hannibal, Manhunt (1986), recebia críticas negativas. Miami Vice, meses antes de lançado, foi mal visto pela crítica. Admito que também estava receoso: o trailer tinha Linkin Park de trilha, os cartazes indicavam um filme ruim de ação... me perguntava, “no que o Michael Mann se meteu?”.
Nos primeiros minutos de Miami Vice meus medos se dissiparam; Linkin Park é quase satirizado, tocando em um bar fodido cheio de gângsteres vestidos de forma ridícula. O filme, como o último do Mann (Colateral) foi filmado em DV, Digital Vídeo, que garante uma imagem, digamos, “de menor qualidade” (aspas grandes aí), o que dá um teor urgente e realista à obra; parte da filmagem é handheld, acentuando o estilo documental e apressado. E lá surgem os protagonistas, Foxx e Farrell, o último portando um ridículo bigode. Detratores acusam o filme de desrespeitar o seriado original. Pois eu digo, graças ao meu bom Deus, desrespeitaram! Nada de ternos cor-de-rosa! Já basta o bigode!
Todo o início do filme é nervoso, marca registrada de Mann, culminando na primeira cena antológica, o suicídio do cara que interpretou o sapateiro do “Eu, Você e Todos Nós”. A cena merece um estudo cuidadoso: o plano dos faróis de carro, o caminhão vindo, os olhos assustados da personagem, e então, o caminhão passa e vemos o rastro de sangue na pista. É um clichê (às vezes questionável) dizer que o não-mostrado é mais impactante. Pois é exatamente isso que ocorre. A cena é visceral, e o espectador sequer assiste ao suicídio em si. Após o início turbulento, chega a ruptura estrutural proposta pelo filme. É um filme de ação sem ação. Ele mergulha nos seus personagens, na construção lenta da trama, sem colocar uma cena de perseguição a cada 20 minutos, como em um filme do Michael Bay (“A Ilha” é um exemplo fácil). Cedo ou tarde o espectador passa a se questionar se entrou no filme correto. A ação no início foi um falso prelúdio e só retornará no final do longo filme de 2 horas e 20. Até lá, aquele espectador que utiliza SEUS OLHOS no cinema (e acredite em mim, são poucas as pessoas afetados pela estética no cinema) será brindado com maravilhosos planos e tomadas.
Destaco, como a melhor cena do centro do filme, a segunda cena de sexo, que ocorre entre o Colin Farrell e a Gong Li. Michael Mann demonstra uma certa obsessão por mãos (sim, isso merece um itálico) e por focar os olhos lacrimejantes da Gong Li. Puta que pariu, com um casal portadores de corpos que muitos gostariam de ver, o diretor prefere focar mãos e olhos chorosos? Mas esse Michael Mann tem um colhões do tamanho de um boi, vou te contar.
Chega de falar de cenas específicas, embora o plano final mereça parágrafos e parágrafos, assim como a aguardada cena de ação, e o momento que toca Auto Rock do Mogwai. O que importa é o seguinte: Michael Mann é o diretor comercial mais artístico do mundo, mais até que o Spielberg. Seus filmes são repletos de simbolismos visuais, como o uso do AZUL no Fogo Contra Fogo, e Miami Vice não é exceção. O esplendor do céu de Miami, roxo, escuro e cheio de relâmpagos e trovoadas já faz o filme valer a pena. O talento visual de Michael Mann beira o ofensivo. Seus filmes são feitos para ver ajoelhado, tal qual as obras-primas dos italianos Sergio Leone e Dario Argento. É isso; Michael Mann deve ter parentesco italiano. Ele é um homem que pensa em imagens, não em palavras. O resultado é catártico para qualquer cinéfilo que USE OS OLHOS (isso exclui boa parte da crítica brasileira), e entediante para pessoas que vão ao cinema querendo aprender alguma lição de vida. Não há lição. É cinema de autor, sem restrições. Mann é o Godard dos americanos. OK, o Brian de Palma também é. E quer saber? Sou mais dos americanos.
Assisti ao filme no cinema. Não sei se o impacto será reproduzido com fidelidade na telinha pequena. Tanto faz. Alugue o DVD. Especialmente se for Widescreen. Miami Vice não merece ser ignorado.
Marcadores: Antônio Xerxenesky
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Babel
 Entre a extensa obra de Kilgore Trout, existe um conto intitulado “O idiota dançarino” e, diz-nos Kurt Vonnegut, “assim como muitas das histórias de Trout, era sobre um trágico fracasso de comunicação”. Nele, Zog, um alienígena de Margo – um planeta onde as pessoas se comunicavam peidando e sapateando – chegou à Terra com instruções para ensinar como prevenir guerras e curar o câncer. Logo que chegou, Zog viu uma casa em chamas e saiu – a seu modo – avisando as pessoas do que estava acontecendo. O chefe da família que morava na casa “matou Zog atingindo-o com um taco de golfe na cabeça”. Pois bem, Babel é um filme sobre peidos e sapateado.
O mote do filme são as dificuldades de compreensão e comunicação existentes no mundo moderno e que são amplificadas pelo fato deste tiny little world ter se tornado, no fim, uma Estrela da Morte globalizada (meu irmão diz que aí – e nos dois pontos – é puro Luhmann, ao que eu só posso concordar). É um ponto interessante, mas fácil de resvalar para besteiras apocalípticas. Felizmente o filme triunfa ao permanecer politicamente neutro ao mesmo tempo que propaga sua ideologia give peace a chance comunicativa.
Porém o filme é mais que um ensaio (escrito) e ele tem uma narrativa, aí a coisa encrespa: me dizem ser, na verdade, várias narrativas interligadas. Agora, há algo que pode acontecer de muito errado com essas histórias conectadas: elas podem dizer sê-lo e não o serem. Creio que histórias conectadas distribuem os personagens em núcleos sem uma ligação muito forte entre si (meu colegas que fizeram exatas podem compreender como uma ligação covalente); o que Iñarritu faz é uma ligação iônica. E a história sai do projeto inicial de dois modos: mostra coisas que mal tem a ver com o filme – embora seja seu melhor segmento, a parte japonesa – ou centra demais em alguns personagens e esquece outros: a família Jones. Como centra neles, acaba indo para um “melodrama para gente inteligente”. Afinal, como é que uma mesma família é atingida por um suposto atentado terrorista e seus filhos se perderem no deserto vítimas do preconceito americano com relação aos mexicanos? Eu sei que tudo pode ser simbólico, mas é só que acaba forçando uma carga emocional que poderia ter sido distribuída muito mais naturalmente (embora escapar aos planos não seja por si só ruim).
Outro ponto é que o filme se trai em sua “ocidentalidade” ao não desenvolver o suficiente a história da família marroquina ou ao mostrar um estereótipo dos mexicanos. É como se a narrativa ficasse mais complexa a cada nível (família marroquina – mexicanos – japoneses – americanos). Só que os personagens também - e ter uma vida pessoal fosse privilégio nosso e daqueles mais próximos (os dois últimos níveis apontados) – o que acaba por mostrar que há muito mais peidos e sapateado na tentativa do diretor de mostrar que we’re one but not the same do que gostaria de admitir.
Enfim, é fácil Babel não ser tudo aquilo que quer ser por sua pretensão e grandiloqüência. E ele realmente não é. Ter uma hora em que poderia ter acabado antes é, contudo, a única falha objetiva que detectei. Mas como filme é bom e te faz pensar um pouco, então é como um daqueles produtos da Polyshop que vem com brindes. Aproveite. Ah e lembrando, ideologicamente e musicalmente a trilha sonora é muito boa, misturando de tudo um pouco e com instrumentos estranhos sem ser world musica.
Marcadores: Pedro Silveira
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Pequena Miss Sunshine

Este filme estreou há tanto tempo que não deveria ser resenhado agora. Aliás, ele nem devia ter estreado, tampouco feito. Aliás, eu prefiro pensar nele como um produto de algum universo paralelo – deve ter entrado no nosso através de um daqueles portais da finada série Sliders, em que cada Terra alternativa era pior que a nossa, com guerras civis, os nazistas no poder... pois bem, o produto mais nefasto de um desses universos alternativos brotou aqui no nosso planeta, chama-se Little Miss Sunshine e seu efeito destruidor se verificou na cabeça de cada um dos 3.469.785 críticos de cinema profissionais do mundo e do dobro de indies que pensou “um fime de oito milhões de dólares sobre as confusões de uma família da pesada que tá no Oscar! Nossa, a Academia deve estar mudando!” Pois sim, a verdade é dura: (1) gastaram oito milhões nisso; (2) a Academia não está mudando; (3) as expressões estilo sessão da tarde não estão fora de contexto; e (4) Little Miss Sunshine é sim um produto de nosso universo.
 “Mas porque tanto ódio contra um filme tão simpático e engraçadinho?” Dirão alguns, e eu responderei: “não sei”, porque um filme tão inexpressivo não deveria motivar nem uma nota sobre sua existência, destinado que estava a ser o item obscuro da lista de filmes do Greg Kinnear que aparece no IMDB esperando um fã encontrar (mas aí ele se tornaria cult e o efeito seria pior). Acho que o ódio é contra como foi vendido, e sabendo-se que grande parte do orçamento de um filme é, na verdade, publicidade, seria melhor ter investido mais em atores qualificados, um roteirista medianamente criativo, um diretor “bacana”... Retornando ao ponto, Little Miss Sunshine é um filme de sessão da tarde que não foi vendido como tal. Ele pega uma fórmula e nem se dá ao trabalho de reciclá-la – todas as situações “engraçadas” te fazem pensar se não as viu antes (“ah mas é que cria uma familiaridade com o filme”). Se eu soubesse que era um filme de sessão da tarde não me incomodaria com a direção virtualmente inexistente, a fotografia comum – “mas é para retratar o kitsch de uma família americana de classe média” –, as atuações planas e inexpressivas, as situações que te deixam com essa cara : |
Mas ele tenta passar uma mensagem”. Ah sim, te digo qual é: concursos de beleza escravizam meninas tornando-as objetos sexuais. “Nossa, o que faremos? Afinal, temos de ter uma mensagem para salvar esse filme e fazer os espectadores acharem que vale a pena viver para ver um filme igual no ano que vem”. Solução: colocar uma guria grávida aos oito anos fazendo um strip-tease (reconheço que essa idéia é boa). O problema é que a família se une para apoiá-la, mostrando que, apesar de todos os conflitos, eles se amam. Final feliz: essa era a mensagem. “Eu não vi isso antes? Ah sim, naquele filme que cansou de passar na sessão da tarde sobre uma família que se muda e não pode levar o cachorro junto, então o guri resolve mijar a cada tantos quilômetros para ‘guiar’ o cãozinho. Qual era o nome mesmo? Não consigo me lembrar...” Ponto provado.
Marcadores: Pedro Silveira
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domingo, 25 de fevereiro de 2007
O Labirinto do Fauno

Eis o melhor filme de 2006. Não foi Os Infiltrados xonga nenhuma. É esse aqui, e eu vou dizer porque! É um filme INTELIGENTÍSSIMO! Começa por aí. A metáfora que ele faz entre as forças conflitantes na guerra civil espanhola (fascistas e comunistas) com os contos de fada é sutil e de um "encaixe" espantoso. Além disso, é um filme duma beleza estética estarrecedora. Nada de fadinhas loirinhas bonitinhas e com colã verde com varinhas mágicas. São fadas que se disfarçam de insetos e quando revelam sua verdadeira face não há nada de muito encantador. A mesma coisa o Fauno. É um bicho de aparência fria e até um pouco assustadora. Um dos monstros da história então, cruzes credo, vou ter pesadelos com ele hoje à noite (esse bichano aí de cima). Tudo isso torna o filme mais real, o conto de fadas mais palpável. Não estamos vendo a terra do nunca. Nós estamos vendo o mundo real, com seres de aparência quase real, tirando o fato de que não existem (deu pra entender? hehe). Atuações? Nenhuma prejudica e algumas se sobressaem. A atriz no papel de Ofélia, Ivana Baquero, não só é encantadora como é convincente na atuação. O Capitão Vidal, interpretado por Sergi López, faz uma atuação muito boa também, a tal ponto que depois de 10 minutos passados do filme, o personagem já causa asco na maioria das pessoas (tirando os admiradores de Franco e companhia, esses se deliciam com o personagem). Terminando a babação de ovo, apresentemos a sinopse:
Durante a guerra civil espanhola, em 1944, Ofélia e sua mãe, Carmen Vidal, refugiam-se numa casa de campo, junto ao Cap. Vidal (esposo de Carmen, padrasto de Ofélia e comandante das forças franquistas na região). Lá, Ofélia encontra um labirinto, pelo qual é conduzida, posteriormente, por uma fada, e onde descobre que é, possivelmente, a princesa desaparecida do reino subterrâneo. Ela então é encarregada pelo Fauno de completar três missões com o intuito de provar que é, de fato, a reencarnação da princesa desaparecida - tudo isso antes de a Lua ficar cheia.
Com um final em que o espectador tira as conclusões que bem quiser, o filme mostra como nunca a velha máxima de prestar atenção nos detalhes de cada dia, sem parecer clichê ou enfadonho.
Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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