Sunshine - Alerta Solar
Tempo atrás, não faz muito, vi o trailer dessa nova empreitada do Danny Boyle. Comentei, “putz, mas esse Sunshine parece um lixo”. Fui adiante: “Uns magrões querendo religar o Sol? Qualé?”. Rateada total. Eu deveria saber melhor. O negócio é que o Danny Boyle não faz filmes ruins. Até seus filmes meia-boca são legais pra caramba, como Por uma Vida menos Ordinária e o A Praia (que vamos lá, seria bom se não fosse aquela estrutura lixenta). Danny Boyle tem tudo para ser afetado. Ele é inglês. Ele é famoso. Ele dirigiu Trainspotting e Cova Rasa. E ainda assim, ele não é afetado ou artê. O seu filme “de zumbis sem zumbis”, Extermínio, é uma obra-prima, talvez um dos melhores filmes da década. O seu filme infantil, Caiu do Céu, é o tipo de filme que eu teria todo o prazer do mundo de levar meu filho para ver. Se eu tivesse um filho, claro. Mas chega de falar do Boyle. Vamos entrar no Sunshine. O inglês disse que a principal inspiração para o filme foi 2001: Uma Odisséia no Espaço e Solaris (o original do Tarkovski, óbvio). Então, isso significa que Sunshine é um filme de trinta horas, lento pra cacete e cheio de diálogos reflexivos? Piça!! Sunshine é inteligente sem esfregar na cara. Não é monótono em momento algum, não, é um filme de ação quase. E ainda assim esbanja não apenas realismo (o que não é muito importante no gênero da ficção-científica) como implicações metafísicas e filosóficas.
Há deslizes? Putz. O Boyle, que bem aprecia uma mudança total de tom nos seus filmes dá a impressão, por um momento, que Sunshine vai se tornar um horror do tipo slasher no espaço. Não falo mais para não sabotar a experiência, mas digamos que depois o filme retoma de onde parou e essa subtrama fica bem interessante. Vou dar um chute longínquo: acho que isso é culpa do nosso amigo Alex Garland, colaborador frequente do Boyle que escreveu o filme, além do já mencionado A Praia.
A grande “graça” do filme, pelo menos para mim, está nas soluções visuais do Boyle. A maneira como a luz reflete nas superfícies é uma atração à parte. Remete diretamente ao estilo de filmar do Brian de Palma. Um adjetivo adequado seria “slick”, mas não consigo pensar no equivalente em português. O curioso? Brian de Palma já dirigiu uma ficção-científica com tons parecidos com Sunshine. O filme era Missão a Marte, e considero o pior filme que assisti do mestre De Palma. Conclusão? Sunshine é, para mim, o filme que Missão a Marte deveria ter sido e não foi.
Agora antes que me chamem de fresco, me permitam explicar que a luz tem uma importância forte no filme, tanto no nível simbólico-metafórico quanto no estético. O reflexo dela é um dos ingredientes fundamentais do filme. Tudo explode e brilha e preenche o mundo de luz e branco e envolve. Delícia.
Sendo um pouco chato, nem tudo é maravilha. Tem uma meia dúzia de planos que é muito videoclipeiro para meu gosto, mas os espectadores fãs de Tony Scott não vão reclamar. Mas no geral cada enquadramento parece muito bem planejado. O Danny Boyle tem uma mania de filmar rostos de ângulos inusitados que me agrada muito. As cenas de ação também lucram com tomadas que começam “invertidas” e que vão se normalizando aos poucos.
Acho que já falei de mais. Vai logo no cinema ver o filme, estreou hoje, 13 de abril na província de Porto Alegre. A campanha de marketing de Sunshine é quase nula, o filme sairá de cartaz em dois toques. E sim, é filme de se ver no cinema. Ajoelhado, de preferência. Absorvendo uma saraivada de luz.
P.S.: qual é a do subtítulo? “Alerta Solar”? Pior que o “Sem Limites” do Trainspotting!
Marcadores: Antônio Xerxenesky


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