Scoop

Ladrão de Casaca
Qualquer crítica sobre Woody Allen tem de considerar dois pontos: o primeiro, a unanimidade – merecida – que cerca sua obra; o segundo, há muito pouco de novo que se possa dizer sobre qualquer filme seu. Portanto nada como a norma para falar de um filme normal; infelizmente os – apenas – cinco filmes que vi do Woody Allen me impedem de falar em termos de toda a sua carreira, pois até há pouco nunca gostara justamente da aura que as pessoas viam em tudo que tinha seu dedo – e foi difícil admitir que em grande parte estavam certas... Contava contra também o fato de me parecer partir quase sempre do mesmo ponto cômico, aquele de escalar uma "musa" para tantos filmes e colocar a si mesmo como par romântico dela - já ouvi muitas justificativas de adesão ao Woody Allen só por isso, o que creio não ser o melhor motivo para gostar de seus filmes. Falando de Scoop, contudo, não serei eu a falar mal - sozinho - de Woody Allen, simplesmente porque o filme é muito bom, extremamente engraçado e divertido.O filme trata da busca por um possível serial killer aristocrático, refinado e bonito (Hugh Jackman) feita por uma medíocre estudante de jornalismo americana em férias na Inglaterra (Scarlett Johansson) que acaba, no decorrer da investigação, por se apaixonar pelo investigado, deixando-a em dúvida sobre o prosseguimento da investigação ou não, ainda mais que tudo aponta ao contrário. O enredo seria comum se não fosse dele, que se sobressai comentando a vaidade dos jornalistas, baseando seu filme num furo jornalístico conseguido trapaceando a morte, e seu próprio papel como judeu errante, que lhe é recorrente - seja na inadequação a um lugar (Londres) no caso, ou a uma situação (quase qualquer de seus outros filmes, creio). Mas a marca de Woody Allen se imprime na inversão da situação tradicional de um filme policial: não buscamos o fim da trama, a solução, a descoberta da identidade do assassino, e sim apreciamos o meio, a história como mostra de um certo estado de coisas muito divertido e quase onírico, em meio a toda a pompa da nobreza britânica e a facilidade com que seus membros pensam a si mesmos, e quase torcemos para que o filme tenha um final meloso, acabando pela metade - embora a reviravolta final do enredo, se não fosse pelo que Woody Allen faz em tela, seja quase que um final feliz.
A história, contudo, se amarra arranjando um concerto de erros - do tipo que os irmãos Coen tanto fazem e que, creio, tenham Woody Allen como inspiração - que já é conhecido, gerando um filme, como já disse, só muito divertido (que se salva pelos diálogos e piadas). Como ponto fraco aparece Scarlett Johansson, que por Encontros e Desencontros eu pensava ser uma boa atriz, mas que aqui muda e parada teria o mesmo efeito, só valendo o fato de vê-la na tela grande como justificativa pra gostar de ela estar ali – sua musa não funciona, parece a adoração de Godard por Ana Karina, que o fazia esquecer do resto que havia na tela para só mostrá-la (embora a visão não seja ruim, obviamente).
Eu tenho de justificar o título, e quero com uma viagem curta: Woody Allen é o ladrão de casaca que penetra a aristocracia britânica, a rouba, foge e se esconde, deixando seus rastros - o filme -, assim como inverte o jogo entre popular e erudito ao subverter o mais aristocrático – e, paradoxalmente, de maior apelo popular - gênero de narrativa, a policial, mas já devem ter dito isso.
Marcadores: Pedro Silveira


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