segunda-feira, 26 de março de 2007

V de Vingança



O Alan Moore, como sempre, reclamou. Mas acreditem em mim quando eu digo que é só porque ele ADORA encher o saco de vez em quando. Do Inferno é outro baita filme baseado em obras dele e adivinha? Ele não gostou. No caso do V de Vingança ele chegou a pedir pra tirarem o nome dele dos créditos, porque não queria o seu nome associado àquela besteira. PURA frescura. Sim, mudaram coisas na adaptação dos quadrinhos para o filme e sim, existem frases de efeito (o que convenhamos, também não era tão raro assim nos quadrinhos...). Mas a verdade é que o filme ficou muito bom, e mesmo mudando algumas coisas, ele continuou fiel à proposta inicial.

Exemplo: no filme temos um ambiente totalmente 1984 (livro do George Orwell, se é que alguém não sabe disso..., que mostra uma Inglaterra ditatorial e totalmente claustrofóbica), que na minha opinião ficou perfeito - esse ambiente também existia nos quadrinhos, mas no filme ficou mais claro ainda. Outra coisa que mudou, e que em alguns pontos foi para melhor foi a personagem Evey Hammond (Natalie Portman): nos quadrinhos, ela é uma menina de 16 anos que sai pra se prostituir e encontra os homens-dedo (uma polícia especial e violenta), sendo salva por V (um terrorista com uma máscara de Guy Fawkes - terrorista do século XVIII ou XVII ou algo assim que tentou explodir o parlamento num dia 5 novembro e que inspirou todo a personagem do V). No filme, ela é apenas uma moça que sai pra se encontrar com um cara, depois do toque de recolher, e o resto é o mesmo que nos quadrinhos, ela é interceptada pelos homens-dedo e o V salva ela. Nesse ponto eu acho que deixar a versão dos quadrinhos não teria ficado ruim, apesar de que muitas outras coisas no filme também mudariam, e essas mudanças talvez piorassem o filme, logo, a escolha não deixa de ser justa. Outro ponto que mudou dos quadrinhos pro filme, e que aí sim, melhorou e MUITO, foi que, nos quadrinhos, a Evey é levada pelo V pro lar dele (assim como no filme) e ela fica com ele por um tempão e em NENHUM momento ela questiona realmente as motivações e os planos do V. No filme isso não acontece. No filme ela tem uma consciência e discute, argumenta diretamente com o V. Esse foi um dos pontos que eu acho que os Wachoski acertaram em cheio.

No quesito pontos fracos, acho que o pricipal deles é a, digamos, forçação (que palavra feia) de barra excessiva em cima das habilidades de V. Tá certo que é um personagem de quadrinhos, mas uma adaptação pra níveis mais realistas não iria mal. Outro ponto fraco é a atuação de Natalie Portman mais pro final do filme. Até certo ponto ela ia muito bem, e então começa a decair para uma atuação em alguns momentos medíocre e superficial. Destaque pra atuação-por-trás-da-máscara de Hugo Weaving (que faz o V). O cara passa o filme inteiro atrás duma máscara e consegue ser um dos pontos fortíssimos do filme.

A minha sugestão para todos é que aluguem o filme E leiam os quadrinhos para tirarem suas próprias conclusões. Ambos tem seus pontos fortes e fracos. Apenas lembrem-se que o filme é a adaptação de uma história em quadrinhos e portanto relevem certos exageros.

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quarta-feira, 14 de março de 2007

Scoop



Ladrão de Casaca


Qualquer crítica sobre Woody Allen tem de considerar dois pontos: o primeiro, a unanimidade – merecida – que cerca sua obra; o segundo, há muito pouco de novo que se possa dizer sobre qualquer filme seu. Portanto nada como a norma para falar de um filme normal; infelizmente os – apenas – cinco filmes que vi do Woody Allen me impedem de falar em termos de toda a sua carreira, pois até há pouco nunca gostara justamente da aura que as pessoas viam em tudo que tinha seu dedo – e foi difícil admitir que em grande parte estavam certas... Contava contra também o fato de me parecer partir quase sempre do mesmo ponto cômico, aquele de escalar uma "musa" para tantos filmes e colocar a si mesmo como par romântico dela - já ouvi muitas justificativas de adesão ao Woody Allen só por isso, o que creio não ser o melhor motivo para gostar de seus filmes. Falando de Scoop, contudo, não serei eu a falar mal - sozinho - de Woody Allen, simplesmente porque o filme é muito bom, extremamente engraçado e divertido.

O filme trata da busca por um possível serial killer aristocrático, refinado e bonito (Hugh Jackman) feita por uma medíocre estudante de jornalismo americana em férias na Inglaterra (Scarlett Johansson) que acaba, no decorrer da investigação, por se apaixonar pelo investigado, deixando-a em dúvida sobre o prosseguimento da investigação ou não, ainda mais que tudo aponta ao contrário. O enredo seria comum se não fosse dele, que se sobressai comentando a vaidade dos jornalistas, baseando seu filme num furo jornalístico conseguido trapaceando a morte, e seu próprio papel como judeu errante, que lhe é recorrente - seja na inadequação a um lugar (Londres) no caso, ou a uma situação (quase qualquer de seus outros filmes, creio). Mas a marca de Woody Allen se imprime na inversão da situação tradicional de um filme policial: não buscamos o fim da trama, a solução, a descoberta da identidade do assassino, e sim apreciamos o meio, a história como mostra de um certo estado de coisas muito divertido e quase onírico, em meio a toda a pompa da nobreza britânica e a facilidade com que seus membros pensam a si mesmos, e quase torcemos para que o filme tenha um final meloso, acabando pela metade - embora a reviravolta final do enredo, se não fosse pelo que Woody Allen faz em tela, seja quase que um final feliz.

A história, contudo, se amarra arranjando um concerto de erros - do tipo que os irmãos Coen tanto fazem e que, creio, tenham Woody Allen como inspiração - que já é conhecido, gerando um filme, como já disse, muito divertido (que se salva pelos diálogos e piadas). Como ponto fraco aparece Scarlett Johansson, que por Encontros e Desencontros eu pensava ser uma boa atriz, mas que aqui muda e parada teria o mesmo efeito, só valendo o fato de vê-la na tela grande como justificativa pra gostar de ela estar ali – sua musa não funciona, parece a adoração de Godard por Ana Karina, que o fazia esquecer do resto que havia na tela para só mostrá-la (embora a visão não seja ruim, obviamente).

Eu tenho de justificar o título, e quero com uma viagem curta: Woody Allen é o ladrão de casaca que penetra a aristocracia britânica, a rouba, foge e se esconde, deixando seus rastros - o filme -, assim como inverte o jogo entre popular e erudito ao subverter o mais aristocrático – e, paradoxalmente, de maior apelo popular - gênero de narrativa, a policial, mas já devem ter dito isso.

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quinta-feira, 8 de março de 2007

Lábios de Sangue



O Jean Rollin é um dos cineastas europeus mais curiosos que conheço. Talvez seja o francês mais bizarro do mundo, por trilhar caminhos muito diferentes de seus conterrâneos. Pois bem, como o sujeito é um ilustre desconhecido pelo Brasil, um pequeno resumo do cara. Rollin é OBCECADO por vampiras lésbicas. É um tema que segue na grande maioria de suas obras, com pequenas exceções para o filosófico La Morte Vivant, sobre uma zumbi lésbica e o desastroso Zombie Lake, sobre mortos-vivos que saem do pântano atrás de garotas de topless.

O que faz a trajetória de Rollin interessante, para mim, é o seguinte: seus filmes são artísticos demais para a fan-base tradicional do cinema de horror. Sua direção é arrastada, a direção de arte tende ao surrealismo e o roteiro ao incoerente. Então, quem gosta dos filmes são umas bichinhas francesas? Tampouco. Críticos de cinema já implicam com o cinema de horror. Vampiras lésbicas? Estão fora. Nem assistem. O Jean Rollin caiu, então, em uma intersecção incômoda. Seus filmes autorais não tem quem assista. Para poder dirigir seus filmes de vampiras lésbicas, constante fracassos de bilheteria, Rollin teve que dirigir pornôs e softcores sob pseudônimos diversos. Ou seja, para realizar seus filmes artísticos, tem que fazer um projeto comercial de quando em quando.

O filme que decidi falar sobre, Lábios de Sangue (Lèvres de Sang, 1975) é sua obra mais pessoal e, ao mesmo tempo, sintetiza toda sua exploração do subgênero das vampiras lésbicas, muito popular entre os europeus. Para quem quiser mais sobre o incomum tema de vampiras lésbicas, visite o site da Revista de cinema Zingu que explica a origem do gênero e analisa três filmes importantes.

Agora uma palavrinha sobre o filme em si, que como vocês perceberam, não é o enfoque dessa minha crítica, mas que diabos, a regra é falar de um filme específico no blog.

É talvez a obra mais romântica de Rollin. Acompanhamos um homem que recorda-se de memórias enevoadas e confusas de uma infância sombria e uma mulher que o visitava ao ver uma foto de um castelo. O homem foge de sua realidade e penetra esse mundo onírico, buscando o castelo de sua infância, onde é perseguido por uma penca de vampiras seminuas. O absurdo da trama, a direção vagarosa e a fotografia colorida fazem do filme uma experiência sensorial única. O espectador pode detestar, dormir, mas duvido que outro filme lhe tenha passado a mesma sensação que este Lábios de Sangue. Bom, há não ser que ele já tenha assistido a outro filme do Rollin.

Recentemente lançaram uma edição limitada de colecionador do filme nos EUA com três (TRÊS!) DVDs. Nunca é tarde para recuperar um filme tão esdrúxulo quanto belo e poético. Ele representa, digamos, o lado sensível do exploitation, lembrando os melhores filmes do prolífico espanhol Jesus Franco. Se tiveres a oportunidade (e uma mente um tanto aberta), faça o download do filme (pois não vais encontrá-lo nas locadoras). Fica aqui a dica. AH, sendo bem prático: se tu, leitor, já assistiu E gostou do filme, aqui vai o link para um ensaio sobre ele. Muito interessante: http://www.kinoeye.org/02/07/sparks07.php

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domingo, 4 de março de 2007

Dreamgirls



Sempre existiu uma certa fórmula para musicais: cenas musicais acompanhadas de diálogos. Tem toneladas de filmes por aí que comprovam isso: Mágico de Oz, Chicago, Moulin Rouge e, o que é possivelmente o melhor musical já criado, Cantando na Chuva. Quando um diretor decide por alguma epifania mal conduzida que é hora de inovar e tenta quebrar essa regra, SEMPRE se sai mal. Alguns conseguem fazer obras de sucesso de palcos se transformarem em filmes horrendos, que não merecem nem sequer serem expostos em locadoras. Um deles é O Fantasma da Ópera, do Joel Schumacher. É um dos piores filmes já feitos. Foi o único filme que NO CINEMA eu cheguei ao ponto de dar cochilos, apesar daquela trilha MAGNÍFICA (ironia, sentiu?) do Nightwish (justiça seja feita, uma das músicas nem é tão asquerosa assim).

Dreamgirls não é nem de longe tão ruim. Mas não merece nem um quarto de indicação ao Oscar. Aliás, merece muito menos que isso. Em primeiro lugar, se tu tens um musical, tu APRESENTA ele como tal, prevendo uma possível falta de informação do espectador. Não faz um trailer com praticamente as únicas cenas faladas do filme e faz parecer que é um filme no padrão dos filmes biográficos. Em segundo lugar, tu não enche o filme com cenas musicais intermináveis e repetitivas. Eu não sei nem se o musical original era assim, mas mesmo que fosse, tem que adaptar algumas coisas! Eu perdi a conta de quantas vezes o público no cinema suspirou e murmurou com o começo de outra cena cantada. Em certo ponto, apreensivos com a possibilidade do início de outra cantoria, eu, e quem estava comigo, rogamos aos deuses cinematográficos juntos “não comecem a cantar! Não comecem a cantar!”, sendo atendidos e suspirando em alívio. São essas as sensações reinantes do filme: alívio quando eles não cantam, apreensão quando existe a possibilidade disso acontecer e frustração quando acontece.

As provas de que o musical bom não é feito com toneladas de cantorias estão aí pra todos verem. O Mágico de Oz tem MUITO mais cenas faladas do que cantadas e é um clássico absoluto dos musicais! O High School Musical (musical da Disney lançado em 2006, acho que apenas para a TV), pra ficar em um exemplo mais novo, tem elementos fortíssimos de exageros típicos de alguns musicais, como no começo do filme em que Troy e Gabriella começam a cantar juntos como se tivessem cantado a vida inteira lado a lado. Isso não prejudica o filme, porque ele foi feito pra ser assim. Como deveria acontecer, as cenas musicais se resumem às passagens mais importantes e pronto, temos um musical que passa longe do chato. Pra finalizar o argumento, Cantando na Chuva, o melhor musical já produzido, tem seu pico de excelência em uma música de 4 minutos e 15 segundos que só aparece na segunda metade do filme.

Em Dreamgirls, cada música é uma nova tentativa de emplacar A música do filme. A cena em que Effie sai das Dreamettes tem que ser uma das seqüências mais chatas da história do cinema. Numa cena que eu calculo que dure uns dez minutos ou mais, temos duas das músicas mais repetitivas da história tocadas uma depois da outra. E o pior: são músicas não só repetitivas, mas também longas.

A maioria dos Oscar’s tem aquele filme medíocre que sabe-se lá porque cargas d’água foi indicado à melhor filme, como O Segredo de Brokeback Mountain ano passado, mas dessa vez, eles exageraram na dose. São poucas as coisas boas que podem receber destaque nesse filme. Eddie Murphy atua bem no seu papel (apesar de aparecer pouco), e as vozes de Beyoncé e da ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, Jennifer Hudson impressionam em algumas passagens. E só. Jamie Foxx não convence em nenhum momento no personagem que interpreta e a trilha sonora não passa de mediana. Parece que ouvimos sempre a mesma melodia, mas com letras diferentes. É uma trilha previsível e repetitiva. Para completar, ainda temos uma cena paz e amor no final entre o “vilão” da história Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx) e Deena Jones (a Dreamgirl principal, Beyoncé Knowles), quando esta canta um verso de amor olhando pra Curtis, seu ex-marido, que retribui com um sorriso que faz o espectador pensar: peraí, mas ele não era um baita fdp? E eles não tinham brigado há uns 2 minutos? Não obstante, o filme termina com Curtis descobrindo que tem uma filha com Effie (a primeira Dreamgirl que ele namorou e que posteriormente saiu do grupo) e... é. Nada. Não acontece absolutamente nada. Ele vê ela do camarote, desce, fica do lado dela e puf, acabou o filme. Legal né?

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