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quinta-feira, 10 de maio de 2007
Tenacious D in “The Pick of Destiny”

Nota: como vi esse filme há muito tempo, a crítica será total – e não apenas parcialmente – subjetiva. O Minutemen tem uma música que se chama “History Lesson, Part Two”, do álbum Double Nickels On The Dime (1984), que melhor expressa o efeito que a música tem sobre algumas pessoas num determinado momento de suas vidas. Ela narra como D. Boon e Mike Watt, vocalista e guitarrista e baixista respectivamente, viveram a música, ou sua “história musical”: Our band could be your life, real names be proof Me and Mike Watt, we played for years Punk rock changed our lives We learned punk rock in Hollywood, drove up from Pedro We were fucking corndogs, we’d go drink and pogo Mr. narrator, this is Bob Dylan to me My story could be his songs, I’m his soldier child. Apesar de falar de metal e não hardcore, de se passar agora e não nos anos 80, Tenacious D in “The Pick of Destiny” é, em última instância, sobre o poder da música sobre a vida das pessoas – premissa que gera filmes idiotas, mas que também faz outros ótimos, como é o caso. Jack Black parece ter um projeto de revitalizar o rock para as novas gerações – e eu que há muito desisti de ver nele (o rock) qualquer força real pareço gostar muito, e olha que é difícil gostar de metal. Se em Escola de Rock Black era o professor que introduzia seus mimados e certinhos alunos no potencial transgressor da música, aqui ele mesmo é esse garoto, mostrando a saga de um guri gordinho crescido numa família religiosa e interiorana sob o comando de um rígido pai (Meat Loaf), que recebe consolo de suas frustrações através de um Ronnie James Dio (\m/) emparedado num cartaz.
Corta. Venice Beach. JB encontra um guitarrista na rua – Kyle Gass – que se torna seu mentor nos segredos do rock ‘n’ roll, até que descobre que KG é apenas um guitarrista gordo e frustrado, sobrevivendo com a ajuda dos pais e ainda por cima careca – desde criança. Temos, então, os dois heróis da aventura, e o que se segue é a paródia de qualquer filme hollywoodiano: eles se separam, se unem, encontram a tentação das mulheres, enquanto seguem o objetivo maior de encontrar uma palheta utilizada por todos os maiores guitarristas da história e que na verdade é um pedaço de um dente do diabo arrancado por um mago medieval (a cena da explicação disso é hilária), até o cume do duelo entre Tenacious D (outra cena boa é a da formação do nome da banda) e o Diabo ele mesmo (David Grohl).
O filme triunfa porque é ridículo, nunca se leva a sério, Jack Black e Kyle Gass estão perfeitos, cada homenagem é um misto de admiração e sátira – há cogumelos, flexões penianas: todo o bestiário do mito roqueiro. O poder do rock, segundo JB, é o de fazer esquecer de tudo que é absurdo nele e em seus fãs e tornar-se, assim, essencial. É o de revelar uma força que é quase revolucionário – ou inconformista –, ainda que ilusória – e isso o filme aceita e glorifica. Marcadores: Pedro Silveira
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domingo, 6 de maio de 2007
Cassino Royale
 Muita gente andava dizendo "MAS O DANIEL CRAIG NÃO TEM CARA DE JAMES BOND!!!" ou "MAS O DANIEL CRAIG É FEIO!!" (bom, não dá pra tirar a razão né?) ou ainda "O DANIEL CRAIG É LOIRO!!!", e eu aqui sempre dizendo "mas ele é tri bom ator, é bom ator feio, mas bom ator!" (ok, ele não é TÃO feio assim). E eis que chega Cassino Royale nos cinemas e contrariando as expectativas de muitos fãs de James Bond (os chatos, geralmente, diga-se de passagem), ele se torna uma referência em filmes do 007, além de ser o mais lucrativo (com méritos) dentro da franquia. Mas enfim, vamos ao filme (quem não viu o filme e não quer saber nada sobre ele, não leia).
Cassino Royale fala sobre a primeira missão do James Bond como agente 007 - explicando também como ele conseguiu o "00" (licença pra matar). Basicamente a missão dele é ganhar uma partida de pôquer e evitar que milhões de dólares caiam nas mãos de um financiador do terrorismo chamado Le Chiffre (sem piadinhas sobre o nome dele, ok?). Para ajudá-lo na missão, há Vesper Lynd (Eva Green) e Mathis (Giancarlo Giannini).
Bueno, vocês nunca se perguntaram como James Bond virou o assassino frio, conquistador e aproveitador nato, mulherengo e charmoso dos outros filmes? Pois é, em Cassino Royale eles mostram essa transformação. E aí está uma das principais queixas dos admiradores do agente: cadê o James Bond que se aproveita das mulheres, como simples objetos e mata sem dó no coração, e nem sequer sua, fazendo tudo isso? Ele está lá, mas com uma diferença: ele é novato, portanto, ainda tem sentimentos de culpa e é mais descuidado. Agora vejamos, o que faz com que um homem adquira um coração frio em relação às mulheres, não tendo escrúpulos em usá-las? Uma desilusão amorosa bem forte, certo? Nada mais coerente então do que mostrar um James Bond apaixonado em sua primeira missão, mas com pintas de seu futuro perfil, afinal, ele se aproveita ou não duma esposa de mafioso genérica? E quando Vesper Lynd lhe pergunta "Eu terei alguma dificuldade com você, senhor Bond?", ele responde "Você não faz meu tipo.", ela retruca "Eu sou inteligente demais" e ele finaliza em uma das cenas de humor do filme dizendo "Solteira...". Sim, ele traz "problemas" pra ela, mas essa demonstração de frieza em relação ao assunto já mostra o que está por vir nas outras missões (e todos os filmes anteriores do espião). Quanto ao assassino frio: ora, por favor, ele recém tirou a licença pra matar, é óbvio que ele não vai sair matando todo mundo sem dó nem piedade - apesar que em alguns momentos é isso que ele faz. E é claro que como é sua primeira missão, ele tem pouquíssima experiência, e portanto se descuida (e por causa disso, se machuca) mais fácil. Nesse aspecto, o diretor foi impecável: nunca se viu um filme do James Bond tão violento. Se você estava acostumado a ver James Bond usando suas engenhocas, esqueça. O que ele mais usa nesse filme é o muque mesmo. E por isso ele sua tanto.
O começo do filme é BEM promissor. Em uma tomada em preto e branco, mostra os primeiros assassinatos cometidos pelo agente 007, até que em algum momento, após a cena, ele se vira e BUM, atira em direção à tela, como de costume, e inicia a apresentação dos créditos. Eu, particularmente, achei que a música e a apresentação dos créditos não tinham nada a ver, mas enfim... pequena falha. Mas se a cena antes da apresentação dos créditos é ótima, a final, é melhor ainda. O espectador espera o filme inteiro e finalmente acontece. Vemos um dos contribuintes (ou algo do gênero) de Le Chiffre chegando em casa e levando um tiro no pé. Eis que ele grita, rastejando "quem é você?" ao que aparece um par de sapatos, e vemos um James Bond 80% mais charmoso dizendo "O nome é Bond... James Bond...".
O roteiro é simples? Sim. Mas o jeito como ele é desenvolvido dentro do filme o tornou uma excelente referência cinematográfica de 2006. Assista! Marcadores: Tiago Nobre de Souza
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