Soy Cuba

O filme mostra através de quatro histórias, e de uma filmagem ESPETACULAR, a evolução de Cuba, dos tempos de Fulgêncio Bastista até a revolução de Fidel Castro. Na primeira parte, vemos um grupo de americanos em um bordel em Havana. Ok, primeiras observações: eu não sei se o objetivo foi de certa forma ridicularizar os americanos, ou se dois dos três atores que faziam papel de americanos eram muito maus atores, porque em algumas cenas o espectador fica com um ponto de exclamação piscando na cabeça pensando “puta merda! Que forçado!”; nesta primeira seqüência já notamos um caráter extremamente crítico quanto ao período pré-revolução quando em uma das frases um americano diz “com dinheiro, se pode tudo em Havana” (o que não deixa de ser verdade, na época referida, mas que acaba prejudicando o início do filme ao meu ver, já que não é necessário dizer com todas as palavras o que já está claro na tela).
Na segunda parte, temos a história de uma família que desde sempre se sustenta através do cultivo e colheita de cana. Pablo, cuja história vemos rapidamente em uma seqüência de cenas absolutamente genial, aparece rezando em uma noite de chuva para que a próxima safra seja frutífera, a fim de sustentar seus filhos. Temos então a imagem do campo totalmente tomado, tempos depois, com pés de cana altíssimos como o velho rezara. Começando a colheita, vemos o dono daquelas terras chegando a cavalo para tratar com Pablo. Ele lhe diz que vendeu aquelas terras a uma companhia americana, e que, portanto, Pablo não pode mais morar ali e que seu trabalho com aquela cana havia terminado. A terceira parte mostra a mobilização estudantil a favor da revolução e seu apoio a Fidel, com Henrique como principal personagem. Na quarta e última seqüência, temos uma família que em certo dia recebe um guerrilheiro da revolução. Mariano, pai da família, conversa com o guerrilheiro e mostra seu desacordo com a revolução ao dizer “essas mãos foram feitas para semear, e não para matar”, com o guerrilheiro respondendo “e essa terra que semeias, é tua?”. Instantes depois, aviões do governo bombardeiam a região, destruindo a casa de Mariano e forçando sua família a fugir, fazendo com que Mariano se junte à guerrilha.
Mas a genialidade do filme não está na história, e sim na filmagem. Logo de cara temos uma tomada aérea da selva cubana absolutamente espetacular. Após, acompanhamos o trajeto de um pequeno barco através de uma vila, com a câmera a bordo do barco, se esgueirando por entre galhos, pequenas pontes de madeira e mostrando a pobreza daquela Cuba, que narra (voz de Raquel Revuelta) sobre suas dores e explorações. A genialidade desta pequena cena que contei aqui está presente durante TODO o filme. Em algumas tomadas meu queixo caiu, tamanha a grandiosidade da cena, como por exemplo quando a câmera acompanha a raiva de Pablo (ao ser avisado que teria de sair daquelas terras) se movimentando freneticamente e acompanhando o facão conforme ele cortava pés de cana incessantemente. Tirando proveito de jogos de luzes e imagens, o filme parece vez por outra um poema visual, unindo frases de impacto com cenas absurdamente lindas como quando Pablo narra as dificuldades de sustentar uma família dizendo “antes eu pensava que a coisa mais assustadora na vida seria a morte. Agora bem sei. A coisa mais assustadora na vida é a vida” com a imagem dele na chuva rezando para que a cana cresça alta.
Eu poderia muito bem descrever outras quinhentas cenas do filme que me pareceram dignas de comentário, mas aí eu seria injusto com quem for que esteja lendo esta crítica. Apenas digo: ASSISTAM! (e ignorem a tradução simultânea para russo)
Marcadores: Tiago Nobre de Souza

